Os mestres-escolas e as tiranias do tempo / Masters of schools and tyranies of time
DOI:
https://doi.org/10.34117/bjdv6n10-643Keywords:
Mestres-escolas, Sertão do Piauí, Educação utilitária.Abstract
Em fins do século XIX e início do século XX, a escola oferecida pelo governo, assim como os serviços da escola particular, só conseguiram beneficiar crianças dos centros mais populosos do território brasileiro. Nas pequenas vilas, sítios e povoados, afastados desses centros, o processo de escolarização acontecia sob a responsabilidade direta das famílias que lançavam mão de formas variadas de ensino para que seus filhos fossem iniciados no mundo dos letrados. O presente trabalho tem como objeto de estudo uma das formas alternativas de escolarização da criança institucionalizada pelas famílias piauienses no período em estudo, qual seja, as práticas educativas dos mestres-escolas. Busca-se, portanto, compreender as atividades de ensino dos mestres-escolas Belarmino Bola-de-Ouro, Higino Gregório dos Santos e João Alves, refletindo sobre a formação, a didática de ensino e os materiais escolares por eles utilizados na tarefa de desasnar crianças e jovens no sertão do Piauí. A fonte de pesquisa utilizada neste trabalho é o livro de memórias Velhas Escolas Grandes Mestres, de Antônio Sampaio Pereira (1996). As análises foram construídas tomando como ponto de ancoragem reflexiva a noção de criatividade dispersa delineada por Michel de Certeau (1996), para explicar a variedade de táticas utilizadas por esses mestres em suas atividades cotidianas de ensinar crianças e jovens a ler, escrever e contar, além de outros conhecimentos práticos e necessários à sobrevivência naquele sertão. E, principalmente, a criatividade perseverante para resistir e insistir em desempenhar o ofício em tempo e circunstâncias que já não lhes reconhecia o valor.
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