Moralismo e Misoginia em Auto Da Alma, de Gil Vicente / Moralism and Misogyny in Auto Da Alma, by Gil Vicente
DOI:
https://doi.org/10.34117/bjdv6n9-210Keywords:
Idade Média, Mulher, Misoginia, Gil Vicente.Abstract
O enfoque deste estudo é observar a figura feminina na construção da obra literária o Auto da Alma, de Gil Vicente, 1518. No texto, a mulher é representada na forma alegórica de uma alma, e o discurso ocorre na transposição de um sermão cristão por meio de personificações: da Alma, do Diabo, da Igreja, do Anjo, dos Santos e de objetos representativos do mundo idealizado pela doutrina da Igreja. Considerado o criador do teatro português, Gil Vicente tem sua obra caracterizada pela religiosidade a partir do cristianismo e pelos sinais humanistas de seu tempo. Neste contexto, o auto apresenta uma figuração do homem que transita no espaço de experimentação entre o Bem e o Mal, conflito que configura história e cultura, e cujos elementos identificam a mulher como objeto de condenação, instigada pelo Diabo ao pecado da vaidade e da ostentação. Fruto de interpretações medievais, o livro do Gênesis, acerca da Criação, traz na figura de Eva o estigma e a herança de pecadora para a mulher. A narrativa do auto aborda o posicionamento e a representação da Alma a caminho da salvação. As referências teóricas de apoio deste estudo constam a partir de Jacques Le Goff, Franco Jr., Georges Duby, entre outros. Consideramos que o texto de Gil Vicente destaca a ideologia predominante do homem que se sobrepõe e julga a mulher, indicando um movimento de marginalização e perfil moralizante ao auto.
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