O perjuro da biopolítica e a vida nua em O caderno rosa de Lori Lamby de Hilda Hilst / The perjury of biopolitics and bare life in the pink notebook of Lori lamby by Hilda Hilst
DOI:
https://doi.org/10.34117/bjdv8n6-334Keywords:
Hilda Hilst, biopoder, estado de exceção, perjuro, transgressão.Abstract
Este artigo pretende apresentar uma reflexão sobre a obra O caderno rosa de Lori Lamby (1990), de Hilda Hilst, como discurso literário pornográfico-erótico, justamente porque possui uma linguagem literária de transgressão que vai a fundo na sua crítica à falsa moral social. A hipótese a ser levada em consideração está relacionada com o argumento de que a obra pode ser estudada a partir do conceito de biopolítica, de Foucault (2004), tomando os eixos da anátomo-política disciplinar do corpo humano e os controles regulatórios da biopolítica da população. Outros estudiosos serão imprescindíveis, como Walter Benjamin (1994) e Giorgio Agamben (2002). Partindo desse diálogo, pretende-se argumentar que o estado de exceção da modernidade constitui-se por meio do biopoder em um contexto civilizacional em que o dispositivo da sexualidade assumiu uma importância axial. Como literatura de transgressão, relativamente ao liame do estado de exceção do biopoder, uma vez rompido por meio da ficção da blasfêmia, a obra produz um discurso literário perjurado e maldito, no duplo sentido de uma literatura ou de uma poética de perjuro, no seu estilo ou na sua desestruturada estrutura sem censura. Assim, a partir deste artigo, espera-se ampliar os estudos das obras de Hilda Hilst. A metodologia é bibliográfica, abarcando teóricos aqui levantados.
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